O relógio marcava 14h42 horas. Ainda faltavam 18 minutos para o início do treino, mas um grupo de crianças já antecipava o alongamento enquanto batia um papo. O espaço era a academia CPA Fitness, no bairro Morada da Serra, em Cuiabá, e o que viria a seguir pode ser incomum para grande parte dos mato-grossenses: um treino de kung fu. A aula é do projeto social de Kung Fu Wushu, que recebe crianças e adolescentes dos 6 aos 17 anos, idosos com 60 anos ou mais e pessoas com deficiência (PCD).
Lá, está parado um homem grisalho, com pouco mais de 1,80m de altura, conversando com o grupo de pequenos atletas. Ele é o mestre Bruk Lee, 56, pioneiro na arte marcial chinesa em Mato Grosso. Em 1994, ele deixou São Paulo para criar a primeira academia de kung fu de Cuiabá.
Bruk Lee conheceu o kung fu em 1985, quando morava em Cacoal, Rondônia, e se apaixonou logo de cara. Em 1990, se mudou para São Paulo e começou a dar aulas de arte marcial. 4 anos depois, enxergou uma oportunidade de desenvolver o kung fu em Cuiabá, onde o esporte ainda não existia.
O pioneirismo de Bruk Lee deu resultados. Ele conta que, anualmente, cerca de mil alunos passam pelas aulas do projeto social, e a arte marcial não para de crescer. Segundo ele, hoje, Mato Grosso é um destaque no cenário nacional, com atletas figurando no topo do ranking.
Um dos destaques é Luiz Maciel Filho, 31, segundo colocado no ranking nacional de Shuai Jiao, estilo do kung fu especializado em técnicas de derrubar o adversário. Ele é o atual tricampeão brasileiro na modalidade e venceu o Pan-Americano em 2023.
Luiz Maciel conheceu a arte marcial aos 16 anos por indicação de um amigo. “Antes do kung fu, eu fazia futebol americano, aí um amigo me indicou o kung fu. Eu sempre gostei de esporte, mas nunca tinha praticado nenhum tipo de luta. O kung fu me puxou de vez”, ele contou.
Outro destaque nacional é o cuiabano Gabriel Pedroso, 26, atual campeão brasileiro no estilo Sanda, modalidade de combate do wushu moderno que mistura técnicas de boxe, chutes, quedas e projeções.
Além do título no Campeonato Brasileiro do ano passado, Gabriel também foi campeão do Pan-Americano e medalhista mundial no FISU World Combate Games em 2022.
Ele iniciou no kung fu aos 4 anos por influência do pai, Marivaldo Pedroso, 48, que também praticava a modalidade Sanda. Depois de parar de praticar a arte marcial aos 6 anos, por conta de sangramentos nasais causados por um desvio de septo, Gabriel retornou ao kung fu aos 18 anos para nunca mais parar. Hoje, ele define o esporte como um “estilo de vida” e destaca benefícios físicos e mentais na sua vida.
“O que mais gosto é a disciplina que ele exige e a força mental que desenvolve. Fisicamente, me trouxe resistência, explosão e técnica. Mentalmente, aprendi a ter resiliência, foco e controle emocional”, relatou.
Brenda Silva, 27, é filha do mestre Bruk Lee, e mantém a paixão do pai pelo kung fu. “Meus pais se conheceram numa academia de kung fu. Eu nasci nesse ambiente. Minhas memórias de infância são do pessoal treinando em volta de mim e eu desenhando sentada no chão”, contou ela.
Atualmente, além de ser a presidente da Federação Mato-grossense de Kung Fu Wushu, ela ocupa a terceira posição no ranking nacional feminino e acumular títulos brasileiros e internacionais.
Brenda trabalha com o pai no projeto social Kung Fu Wushu. Eles sonham em continuar expandindo o esporte em Mato Grosso, e, agora, com a ideia de levar a arte marcial chinesa para outros municípios do estado, como Aripuanã, Cáceres e Juína.
Projeto social
O projeto social de Kung Fu Wushu, que Para mais informações sobre o projeto social de Kung Fu Wushu, atende crianças, adolescentes, idosos e pessoas com deficiência (PCD), é gratuito. A inscrição pode ser feita através do formulário. Para mais informações, acessar o Instagram.
Os integrantes do projeto recebem uma camiseta e uma calça de kung fu, e os materiais usados na modalidade, como bastões e espadas, são emprestados gratuitamente nas aulas.