Episódio mais recente do podcast “Eu Sou Muitas” traz o depoimento emocionante de Barbara Milano, irmã de Beatriz Milano, assassinada pelo noivo Fernando Veríssimo de Carvalho, enquanto estava grávida de 5 meses. O crime que chocou Rondonópolis completa 6 em novembro e somente agora o condenado, que é médico, perdeu a licença para exercer a profissão.
Em entrevista ao podcast idealizado e dirigido pela artista-clínica e professora Karlla Girotto, com realização do Centro Cultural São Paulo (CCSP), Barbara Milano comentou sobre o crime que vitimou sua irmã e como o Conselho Regional de Medicina (CRM) lidou com o caso.
A irmã conta que Beatriz foi transferida para Rondonópolis porque ocupava um cargo de chefia na empresa em que trabalhava.
“Naquele momento, ela morava no estado de Mato Grosso. E nós fomos bastante atendidas por esse corpo público que cuida disso, desde a polícia, o Ministério Público. Em 2021, esse assassino é condenado, é considerado culpado pela Justiça, inclusive, numa pena grande, o que é dígamos que comum dentro da primeira instância”, conta a irmã.
Fernando foi condenado a 24 anos de prisão, mas como ingressou no curso de Psicologia, da Universidade Federal de Rondonópolis, enquanto já era formado em Medicina, ele pode sair da cadeia para frequentar as aulas.
“Eu fico sabendo isso um pouco depois, que no momento da condenação, ele já tinha prestado um Enem para fazer um curso de graduação numa universidade pública federal de Psicologia”, lembra. “Bom, esse cara é condenado a 42 anos, mas a condenação de homicídio no Brasil, ela tem uma pena máxima de 30 anos. Então, vai para segunda instância, ele é um réu primário, isso não é uma condição, digamos, porque são sujeitos que entendem que matar as suas mulheres, não é algo assim tão criminoso numa visão sistêmica. Em 2023, ele é condenado a 24 anos e nos ainda não temos mobilização do CRM”, conta em ordem cronológica dos fatos.
Ela conta que Beatriz foi velada de caixão aberto por não possuir hematomas, pois o namorado e médico soube onde atingi-la, para que não deixasse marcas aparentes.
“Quando a gente fala do feminicídio, a gente está falando de mulheres que morrem dentro de casa. Que morrem pelas mãos de pessoas que, supostamente, estariam ali zelando, inclusive, pela segurança e vida delas. Não tem como a gente comparar isso com mortes por assalto, acidente de trânsito, qualquer outra coisa”, desabafa a jovem.
Beatriz Milano se relacionou por cerca de 11 meses com Fernando e morou na casa dele por dois meses.
“Eu acho que uma mulher autônoma como ela, com o próprio emprego, com o próprio bom salário, com a própria boa condição, é uma vergonha de se ver numa situação de violência. E eu acho que como nós fomos criados em situações violentas, a gente não acha que a pancada na mesa, que o murro na parede é um comportamento prévio que pode gerar, por exemplo, o assassinato”, pondera a irmã.
Mesmo condenado, Fernando estava atuando em atendimento in loco de acidentes de trânsito, visitação de pacientes no Hospital Regional, Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e consultas domiciliares a colaboradores e eventos da Cooperativa de Desenvolvimento de Rondonópolis (Coder).
Foi apenas neste ano que o CRM aprovou por unanimidade a interdição cautelar total do exercício profissional do médico Fernando Veríssimo.
Atuando como clínico geral, ele transferiu seu registro profissional do Conselho Regional de Medicina de São Paulo para Mato Grosso em 29 de agosto de 2023 e, apesar da condenação, atuava sem qualquer restrição como médico na cidade. Obteve autorização da Justiça para se recolher no presídio até 20h e, durante o dia, é monitorado por tornozeleira eletrônica.