Camila Paulino
O Ministério Público Estadual (MPE) protocolou uma nova denúncia contra a tenente do Corpo de Bombeiros de Mato Grosso, Izadora Ledur de Souza Dechamps, que vai responder a um novo processo por crimes de tortura, durante curso de formação da corporação. Desta vez, a denúncia foi apresentada pela vítima Maurício Júnior dos Santos, que é ex-aluno.
Em 2021 a militar respondeu por um crime semelhante, contra o ex-aluno Rodrigo Claro que morreu após sessões de afogamento durante o 16º Curso de Formação de Bombeiros. No entanto, a Justiça Militar livrou a tenente da acusação e a condenou apenas por maus tratos a um ano de prisão em regime aberto.
De acordo com o documento assinado pelo promotor Paulo Henrique Amaral Motta, as aulas de atividades aquáticas do 15° Curso de Formação de Soldados do Corpo de Bombeiros tiveram início no início de 2016, na ocasião Ledur era instrutora.
Apesar de apresentar bom condicionamento físico, bem como ter sido aprovado em todas as fases do concurso o ex-aluno Maurício demonstrou dificuldades na execução das atividades aquáticas, o que era visível a todos os alunos e instrutores.
“Por conta disso, depreende-se do feito, que a vítima já se encontrava pressionada e temerosa, vez que a imputada (Ledur) era conhecida por utilizar métodos reprováveis para ‘castigar’ alguns alunos que estavam sob sua guarda”, diz trecho de documento.
Em um dos dias de treinamento, realizado na Lagoa Trevisan, em Cuiabá após a execução dos exercícios preliminares, os alunos formaram uma fila e entraram na água sem corda de apoio ou colete salva-vidas.
Em seguida, após percorrer cerca de 40 metros, a vítima começou a sentir câimbras, sendo auxiliada pelos colegas. Ocorre que, já no meio do percurso, a denunciada determinou que os demais alunos seguissem com a travessia, deixando Maurício para trás.
“A partir daí, como forma de aplicar castigo pessoal, a denunciada passou a torturar física e psicologicamente a vítima, quando, além de proferir palavras ofensivas, utilizando a corda da boia ecológica iniciou uma sessão de afogamentos, submergindo-a por diversas vezes”, diz a denúncia.
Ato contínuo, após alguns “caldos”, o ofendido já sem forças para emergir e respirar, depois de ter engolido muita água e gritado por socorro, veio a segurar os braços de Ledur implorando para que ela cessasse a atividade.
No entanto, a tenente repreendeu o aluno gritando “Você está louco? Aluno encostando em oficial”. E as sessões de afogamento só se encerraram quando a vítima perdeu a consciência. Assim que recobrou a consciência, a militar exigiu aos gritos que ele retornasse para a água.
“Por sentir fortes dores de cabeça, temendo por sua vida, a vítima não retornou às atividades aquáticas”.
Para o promotor, “a autoria do crime de tortura encontra-se robustamente demonstrada, por força do contido nos documentos acima mencionados”.