Mais de 7 mil famílias vivem pesadelo diário com as chuvas

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Mais de 7 mil famílias moram em áreas de risco em Cuiabá. É o que aponta o último levantamento da Defesa Civil do Município que foi realizado antes do período pandêmico causado pelo coronavírus (covid-19). O órgão enfatiza que, provavelmente, esse número aumentou, já que nos últimos dois anos muitas pessoas perderam o emprego e não conseguiram arcar com a despesa do aluguel, se instalando em áreas impróprias e que representam perigo à própria vida. Moradores destes locais contam que quando chega o período chuvoso, choram com medo de perder a casa e os móveis, ao mesmo tempo em que relatam que já perderam a conta de quantas vezes foram prejudicados.

 

Um dos moradores mais antigos do Residencial Getúlio Vargas, o mecânico Valdenil Santana Corrêa de Sá, 58, é proprietário de uma das casas que fica às margens do córrego Machado, na região do Coxipó, na Capital. Do outro lado do córrego mora o irmão de Valdenil, Osvarino Corrêa de Sá, 62, que vive com a filha de 14 anos. Em ambas as residências entra água quando a chuva chega em grande volume e por mais de 15 minutos. “Esse é o tempo suficiente para o córrego encher e a água invadir a nossa casa. Já construímos barreiras nas portas, mas elas serviram apenas para amenizar a situação. Se a chuva é muito forte e prolongada não há barreira que suporte”, conta Valdenil.

 

O cenário se tornou ainda mais preocupante há 5 anos, quando a Prefeitura construiu uma ponte na região. Isso porque o lixo e entulhos que vêm com a força da chuva entopem a passagem de água do bueiro instalado debaixo da ponte e a água acaba subindo mais rapidamente. “Tem 5 anos que nossa vida virou um martírio. Toda vez que chove a gente já sabe que precisará correr para não perder mais móveis. Já perdi as contas de quantas vezes minha casa encheu d’água. Perdi geladeira, guarda-roupas, sofá”, diz o morador.

 

Ele ainda lembra que tinha acabado de construir um muro na divisa com o córrego quando a ponte foi construída na região e foi preciso apenas uma chuva para derrubálo. Do outro lado, seu irmão construiu uma barreira com alambrados, tapumes e tábuas, no intuito de impedir com que a água do córrego avance para dentro da casa e também corroa a base da residência. “Com o passar dos anos, o córrego vem avançando e corroendo a terra por baixo da casa, isso a deixou instável. Meu irmão aterrou embaixo e construiu essa barreira, que também não é garantia de nada, só reduz a velocidade da corrosão”.

 

Valdenil e Osvarino estão extremamente preocupados com a situação de suas residências, pois em ambas as casas a água chega a marcar um metro de altura. Mas afirmam que não têm condições financeiras de se mudar para outro local, já que ninguém comprará os imóveis que construíram por estarem em uma área de risco. “Sabemos do perigo, mas vamos fazer o que? Minha sobrinha chora toda vez que chove, porque sabe que nossa luta vai começar novamente. A Defesa Civil já veio aqui diversas vezes e recomenda que a gente saia da casa, mas vamos para onde? Não temos dinheiro e o pouco que conseguimos investimos nessas casas”, salienta Valdenil.

 

Vizinha dos fundos do mecânico, a autônoma Larissa Thiara de Arruda Almeida, 31, é outra moradora da região que reconhece o risco de viver em uma área instável. Ela e o marido compraram uma residência no bairro Santa Terezinha, que faz divisa com o Residencial Getúlio Vargas. A casa também fica às margens do córrego Machado e sofre as consequências das cheias causadas pelas chuvas.

 

Larissa lembra que comprou a casa quando engravidou da primeira filha, Ester, hoje com 3 anos. Conta que encontrou o anúncio de venda do imóvel em uma rede social e foi visitar a casa no período noturno. Ao ver que a casa ficava à beira do córrego questionou a antiga dona se o local não alagava quando chovia, e a então proprietária afirmou que não. “Vi que na área do fundo tinha uma mureta pequena que fechava toda a área e fiquei sem entender. Meu marido quebrou para podermos transitar da área para o quintal. Mas, após a primeira chuva, descobrimos o motivo de ser tudo fechado”.

 

A casa custou R$ 17 mil, que foi divido em uma entrada de R$ 6 mil e mais 11 parcelas de R$ 1 mil. Quando faltavam 5 parcelas para quitar o imóvel, houve o primeiro alagamento da residência. O casal conversou com a antiga dona e ela aceitou uma moto avaliada em R$ 2,5 mil para quitação do débito.

 

Desde que está morando na região, a casa de Larissa já alagou pelo menos 5 vezes. Ela construiu barreiras nas portas de acesso ao interior do imóvel mas, ainda assim, quando chove muito a água entra. “Os donos antigos jogaram aterro no quintal para maquiar a real situação. Hoje a gente sabe a realidade, pois a água já levou boa parte da terra e está cada vez mais próxima da nossa casa. O solo está todo fofo”, diz a jovem.

 

Ela e o marido vendem chinelo para manter as despesas da casa e sustentar além de Ester, o pequeno João Guilherme, de um ano e meio. Ela diz que tem medo de morar no local, mas também enfatiza que não tem condições de se mudar e muito menos pagar aluguel. “Penso em sair daqui, mas quem vai querer comprar uma casa como essa? Daí penso em reformar, mas também me pergunto se não será mais prejuízo, já que essa situação só tende a piorar”.

Fonte: Gazeta Digital

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